O diálogo inter-religioso precisa de um clima
de liberdade, confiança e espaço democrático.
Geneviève Comeau
O encontro inter-religioso do dia 27 de março
na paróquia de Saint Léon, em Paris, que reunia um relator judeu, um cristão
(católico) e um muçulmano, foi fortemente perturbado. Jovens pertencentes ao
Mouvement de la Jeunesse Catholique de France (ligados à Fraternidade São Pio
X), muito regularmente – mais ou menos a cada 15 minutos –, perturbaram a noite
interrompendo em voz alta os oradores. Confira a análise de Geneviève Comeau*:
"É inútil ficar ouvindo o que um rabino ou
um muçulmano vai fizer. Nós já o sabemos", gritava um deles, manifestando
assim uma certa inaptidão à escuta... Com alguma dificuldade, a reunião pôde
continuar até o fim.
O diálogo inter-religioso não é relativismo ou
confusão, mas sim troca, em que cada um pode expressar em que acredita, no
respeito ao outro. O respeito visivelmente não era o ponto forte desses
perturbadores.
O diálogo inter-religioso precisa de um clima
de liberdade e de confiança, assim como de um espaço democrático, em que
opiniões contraditórias possam ser expressadas sem violência. Naquela noite, a
democracia foi ofendida por meia dúzia de jovens que quiseram impedir que as
pessoas presentes discutissem livremente entre si.
O diálogo inter-religioso contribui para
remover as incompreensões e os medos recíprocos. Mas, no fim daquela noite, uma
senhora muçulmana expressava o seu temor de participar novamente desses
encontros, se eles forem a tal ponto obstaculizados. Ao contrário, não cedamos
nunca ao medo e ao desencorajamento!
Nos últimos tempos, diversas reuniões ou
conferências foram igualmente perturbadas do mesmo modo por grupos de tendência
lefebvriana. Parece que estamos lidando com uma estratégia de intimidação, no
momento em que a Igreja Católica festeja o 50º aniversário do Concílio Vaticano
II.
O desejo de encontrar o outro e de trilhar um
caminho com ele não é relativismo. "O diálogo é um caminho que conduz ao
Reino", dizia João Paulo II em A missão de Cristo Redentor (n. 57). Bento
XVI continuou nessa mesma linha, insistindo na paz: o diálogo é uma forma de
converter a violência que se encontra em nós.
Façamos com que o medo e a violência não tenham
a última palavra, e que os caminhos do encontro sempre sejam possíveis!
La Croix, 18-04-2012, reproduzido pelo
IHU-Unisinos.
*Teóloga francesa, membro do Conselho dos
Bispos Franceses para as Relações Inter-Religiosas.